quinta-feira, 16 de setembro de 2010

METADE (Osvaldo Montenegro)

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é  silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas
Como a única coisa que resta a um homem
Inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso
Mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo se torne
Ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso
Que eu me lembro de  ter dado na infância
Porque metade de mim é lembrança do que eu fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
Mais do que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espírito
E que teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdida
Porque metade de mim é amor
E a outra metade tambèm.

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